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domingo, 14 de agosto de 2011

NO DIA DOS PAIS, MINHA HOMENAGEM É PARA OS FILHOS... os filhos do brasil



Menor Abandonado

Meu Brasil, és desigual.
Por que tens no povo a classe
Onde um filho teu já nasce
Em conflito social?
Por achar isso imoral,
Um poeta inspirado
Constitui-se advogado
E em versos recrimina
O desprezo à triste sina
Do menor abandonado.

– Seu doutor, sou uma criança
Que não teve sua sorte,
João-ninguém é meu consorte,
Orfandade, minha herança.
Mas eu sei que a lembrança
Que o doutor tem do passado
É dum jovem afortunado
Que não viu a coisa preta
Nem seu lar foi a sarjeta
Dum menor abandonado.

O senhor teve família
Que lhe deu educação,
Deu-lhe roupa, refeição,
Uma casa com mobília.
Viajou, sem ter quizília,
Com ou sem pai a seu lado.
Já meu pai é ignorado,
Minha escola é a rua;
O meu pão, a sobra sua.
Sou menor abandonado.

Sou um ser que não tem vez,
Não tem voz e nem direito.
Vivo assim de qualquer jeito
Sem doutrinas e sem leis.
Sou mal visto por vocês,
Vivo sempre relegado,
Quase sempre sou culpado
Por um mal que acontece
E o senhor só me conhece
Por menor abandonado.

Nós nascemos num país
Onde há desigualdade.
Por exemplo, a sociedade
Tem no seio alguns perfis:
Dama, virgem, meretriz,
O burguês e o favelado,
Empresário e empregado,
Nossa infância diferente
– Seu passado e o meu presente
De menor abandonado.

Se seu filho adoece,
Sente febre ou sente dor,
Um amigo do senhor
Que é doutor logo aparece.
Isso a mim não acontece
Porque tudo dá errado:
Vou ao posto, está fechado.
E o doutor – um elitista
Não atende a pensionista
E a menor abandonado.

O seu filho é protegido
Pela sorte do destino,
Anda lorde e grã-fino,
Onde chega é conhecido.
Já eu sou um desvalido,
Maltrapilho e mal trajado.
Por viver nesse estado,
Quando chego num local,
Vêem mais um marginal
Que menor abandonado.

Pra seu filho a vida é boa.
Por viver como um burguês,
Tem mesada todo mês
E jamais se atordoa.
Já eu tenho vida à-toa,
Vivo sempre atordoado.
Sem ter um ”tostão furado",
Sou o extremo de seu filho:
Ele é rico e eu, maltrapilho
E menor abandonado.

Não me culpe, seu doutor,
Se em seu mundo tão nobre
Eu nasci assim tão pobre,
Carregando esta dor.
Eu não culpo o senhor,
Mas se houvesse ajudado,
Não me via nesse estado:
Tão sozinho neste mundo,
Tão carente e moribundo
E menor abandonado.

Eu sou fruto dum sistema
Que fez a sociedade
Se vestir de vaidade
E esquecer quem tem problema.
Veja, sou mais um dilema
Que o senhor quer acabado,
Mas sem nunca ter tentado
Estender-me sua mão,
Verá, sempre, a nação
Com menor abandonado.

Se o doutor é um político
– Deputado, senador
Ou então governador
E tem senso autocrítico,
Dou-lhe aqui um veredicto:
– Faça logo ser votado
Um projeto dedicado
A sanar a situação
De um "calo" da nação
– O menor abandonado.

Se um dia o destino
Mudar essa minha vida
E me der uma guarida
Que eu não tenho em menino
Serei grato ao Divino
Por ter Ele me ajudado,
Indicando um lar sagrado
Que por filho me adotou
E da rua retirou
Um menor abandonado.


de Tarcísio José Fernandes Lopes
Brasília - DF

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