SAÚDE
Uma injeção de realidade
SUS precisa de reformas para cumprir promessa constitucional de garantir saúde de qualidade para todos. Da 'Economist'*
Quem vê o Instituto do Câncer, em São Paulo, e suas condições exemplares, acredita que tudo vai bem com o Sistema Único de Saúde (SUS). Mas há um abismo separando suas aspirações da realidade. Seu financiamento é confuso, parte estadual, parte federal, e varia enormemente de lugar para lugar. Mais de 2/3 do orçamento de R$ 350 milhões vêm do governo de São Paulo, mas poucos estados têm tanto dinheiro assim para investir na saúde. A medicina familiar do SUS atinge apenas metade dos brasileiros, e ¼ da população do país têm seguro de saúde; o restante, a população mais pobre, vive em áreas rurais remotas ou favelas urbanas violentas onde não há serviços na área, e devem pagar do próprio bolso, ou se arriscar nas abarrotadas salas de emergência dos hospitais públicos.
Esse cenário começa a preocupar os brasileiros. Pesquisas afirmam que, desde 2007, os problemas da saúde ultrapassaram a economia na lista de preocupações dos eleitores. José Serra, segundo colocado na última eleição presidencial, tentou se apoiar em sua boa passagem pelo Ministério da Saúde entre 1998 e 2002. Não foi o suficiente para que ele derrotasse Dilma Rousseff, que contou com o apoio da popularidade de Lula, mas foi um sinal de que os políticos brasileiros estão acordando para as preocupações da população quanto à baixa qualidade dos serviços públicos.
Dilma está tentando responder a essas preocupações, e incluiu drogas para o tratamento de diabetes e doenças cardiovasculares à lista de remédios pagos pelo SUS. O admirado Programa da Saúde Familiar está sendo ampliado e chegando a novas regiões. Sua abordagem para erradicação da pobreza combina as transferências de recursos – que sob o governo de Lula atingiram ¼ da população – com medidas de saúde pública como melhorias no saneamento básico e aparelhos de exercícios físicos gratuitos nas favelas.
Maiores melhorias, no entanto, exigem mudanças no uso do orçamento do SUS. Uma recente pesquisa sobre a saúde brasileira publicada no Lancet, um jornal internacional, afirma que o SUS sai perdendo no seu investimento em remédios porque boa parte do dinheiro vai para processos judiciais movidos por pacientes que usam as promessas idealistas da constituição para exigir tratamentos caros que não são automaticamente cobertos pelo SUS. E boa parte do orçamento ainda vai para os hospitais, e não para o Programa de Saúde Familiar, diz Michele Gragnolati, do Banco Mundial. Deixar mais hospitais públicos sob o controle de organizações não-lucrativas, com liberdade para contratar e demitir, e associar pagamentos ao desempenho, aumentariam a eficiência do sistema, diz ele.
Outros creem que as grandes melhorias exigiriam uma nova relação com os fornecedores privados, que – ao contrário do que imaginavam os autores da Constituição – floresceram desde a criação do SUS. Seguradores passaram a vender planos de baixo custo para brasileiros que deixaram a pobreza recentemente; companhias como a Diagnósticos da América, que tem mais de 300 laboratórios em 13 estados oferecem exames de sangue e raios-X gratuitos para aqueles que não conseguem arcar com os preços do pacote completo.
“Éramos muito idealistas em 1998”, diz Bento Cardoso, do Insper, uma escola de negócios em São Paulo, que oferece um MBA em administração de saúde. “O Estado deve pagar por saúde de alta tecnologia e tratamento de emergência para todos, mas deve restringir o financiamento primário para aqueles que não podem pagar por seguros”, diz ele. “Isso tornaria explícito aquilo que já acontece por debaixo dos panos”.
*Traduzido e adaptado pelo Opinião e Notícia
OPINIÃO: Eu particularmente acho que não deveríamos gastar dinheiro com copas, olimpiadas e trens bala, bem como caçar a todo custo os desvios de dinheiro e colocar na cadeia todos os desgraçados que que roubam nosso suado imposto!
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